A Solenidade de São José, Esposo da Virgem Maria, Patrono Universal da Igreja, tem um lugar especialíssimo no calendário litúrgico. É celebrada como uma pausa na caminhada quaresmal. A mãe Igreja propõe esta liturgia a ser celebrada justamente sete dias antes da outra grande solenidade que é a Anunciação do Senhor, a 25 de março. 3w2u1t
A correlação entre estas duas datas celebrativas nos dá conta da importância extraordinária dessas duas pessoas, Maria e José, na história da Salvação. São os dois seres humanos mais privilegiados que Deus selecionou, escolheu, chamou a uma vocação única, superando todos os profetas, reis, sacerdotes, ou qualquer outra personalidade bíblica do Antigo e do Novo Testamento. Através daquele sim de ambos, o Verbo de Deus se encarnou, se fez homem para a nossa Salvação. O “sim” que eles deram foi ato explícito de adesão ao plano salvífico de Deus e que possibilitou a redenção para os que têm fé.
Por isso, escolhemos para a Ordenação Presbiteral dos caríssimos Robert Teixeira e Rafael Nascimento essas preciosas datas, no contexto de nossa caminhada sinodal, rumo ao centenário da Igreja Diocesana. Para ambos os neossacerdotes, cabe a comparação à figura do pai adotivo de Jesus.
O padre há de procurar em São José várias virtudes a serem imitadas. Diz a Sagrada Escritura que ele era um homem justo. O termo “justiça” nos livros sagrados não tem apenas o sentido jurídico de ser honesto na relação com seus semelhantes. É mais que isso. Ser justo, no sentido bíblico, é ser fiel a Deus, é ser Homo Dei, alguém no caminho da santificação.
O sacerdote tem como primeiro objetivo de sua vida a santidade pessoal, que inclui também a honestidade e a justiça em todos os sentidos, para que possa, por sua vez, santificar os demais. Porém, o padre é pessoa humana e, como José, reconhece-se humildemente humano e sujeito ao pecado. Por isso, está disposto a oferecer sacrifícios pelo pecado do povo e pelos seus próprios.
Além disso, como São José, o padre deve ser um homem a serviço. Escolhido por Deus Pai para ser o tutor de Deus Filho, esposo fiel da Beatíssima Virgem Maria, São José se dispõe a servir de forma total, como afirma Papa Francisco na Patris Corde: “A grandeza de São José consiste no fato de ter sido o esposo de Maria e pai de Jesus. Como afirma São João Crisóstomo, ‘colocou-se inteiramente a serviço do plano de salvação’” (PC 1). Também citado pela Exortação Apostólica, São Paulo VI, em sua homilia de 19 de março de 1966, observava que o valor de José está “em ter feito de sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da encarnação e à conjunta missão redentora; em utilizar da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer dom total de si mesmo, de sua vida e de seu trabalho”.
Na Patris Corde, em seu número 2, o nosso atual Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, dedicou um belo trecho sobre a ternura de São José, atribuindo a ele o título de “Pai na Ternura”. Aqui se vê o quanto Deus é bom para com todo aquele que a Ele oferece com sinceridade a sua vida, mesmo reconhecendo sua fragilidade humana, pois a Ordenação Sacerdotal nos faz servos especialíssimos de Deus, nos confere uma dignidade que não merecemos, nos dá até autoridade no meio comunitário, mas não nos tira a condição de pessoas humanas, frágeis. Diz o Santo Padre que a história da salvação se realiza, “contra toda esperança (Rom 4,18), através de nossas fraquezas. Muitas vezes pensamos que Deus conta apenas com a nossa parte boa e vitoriosa, quando, na verdade, a maior parte dos seus desígnios se cumpre através da nossa fraqueza e apesar dela”.
Pois bem, padre, quando se sentir frágil e incapaz de fazer o que gostaria de realizar com muito mais perfeição e beleza, olhe para o pai adotivo de Jesus, na simplicidade da carpintaria de Nazaré, e aprenda com ele a ternura que vem do alto, para perseverar com alegria e grande confiança no seu ministério revestido de tanta beleza e harmonia.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora