A partida do Santo Padre, na manhã do dia 21 de abril, abalou com toda a Igreja. Desde então começaram a surgir ao redor do mundo manifestações de iração e reconhecimento pelo “papa da misericórdia”. 2e2438
Nos últimos dias, dois estudiosos da Arquidiocese de Juiz de Fora publicaram artigos em homenagem ao Papa Francisco. O Professor Robson Ribeiro Chaves, formado em História, Filosofia e Teologia, destaca o legado transformador do Papa Francisco e seus avanços. Aposta como sua liderança foi marcada pelo serviço, pela escuta e pela defesa da dignidade humana, frisando que a esperança não parte com ele, mas fica por ele, por meio de tudo que ele fez e inspirou.
Enquanto o texto do escritor Luís Eugênio Sanábio e Souza, trabalho veiculado no site do Vatican News, relaciona as bem-aventuranças do Sermão da Montanha aos exemplos concretos vividos pelo Papa Francisco durante seu pontificado. Confira, abaixo, os dois textos na íntegra.
Morre Papa Francisco e não a esperança 615oy
Prof. Robson Ribeiro
Jorge Mario Bergoglio foi eleito em 2013, tornando-se o primeiro papa latino-americano da história e o primeiro jesuíta a assumir o trono de Pedro. Desde o início, recusou os signos de poder: escolheu morar na Casa Santa Marta em vez dos aposentos papais, vestiu-se de maneira simples, dispensou os protocolos rígidos e se apresentou ao mundo apenas como “Bispo de Roma”. Seu carisma não estava na grandeza de suas vestes, mas na grandeza de seu coração.
O papa Francisco soube encarnar o Evangelho em sua forma mais desarmada: aproximou-se dos pobres, acolheu os imigrantes, lavou os pés de prisioneiros e pediu, com humildade, que orássemos por ele. Sua liderança não era de imposição, mas de escuta, não de condenação, mas de acolhimento. Um papa que sorria com os olhos, mesmo em meio a críticas e tensões internas.
“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e pela comodidade de se agarrar às próprias seguranças.” — Papa Francisco
Um dos legados mais profundos de Francisco é seu sonho de uma Igreja sinodal — ou seja, uma Igreja que caminha junto com o povo. Para ele, todos têm voz: leigos, mulheres, jovens, pessoas LGBTQIA+, idosos, religiosos e religiosas. A escuta tornou-se método, e o diálogo, caminho. A sinodalidade rompe com a lógica clericalista e abre as portas para uma Igreja mais horizontal, comunitária e inclusiva.
Nas palavras do papa, “o verdadeiro protagonista da sinodalidade é o Espírito Santo”, e isso exige discernimento, paciência, abertura e coragem. Ele quis uma Igreja “em saída”, que vá às periferias existenciais e geográficas, uma Igreja que serve e não que se serve.
Papa Francisco também ampliou o papel da Igreja no cenário mundial. Em documentos como Evangelii Gaudium, Laudato Si’ e Fratelli Tutti, ele fez um apelo apaixonado por uma ecologia integral e por uma fraternidade universal. Denunciou o sistema econômico excludente, a indiferença global diante dos migrantes, o culto ao dinheiro e a cultura do descarte. Foi um incansável defensor da paz, do diálogo inter-religioso e da dignidade humana.
Seu magistério foi um sopro de profecia em tempos de muros e guerras. Ensinou que “tudo está interligado”, que não há futuro fora do cuidado mútuo e do planeta. Incentivou o Pacto Educativo Global, chamando educadores, instituições e jovens a renovar a cultura com base na solidariedade.
Francisco resgatou com força o espírito do Vaticano II, promovendo uma Igreja mais dialogal — com o mundo, com as outras religiões, com as diferentes culturas e, sobretudo, com o seu próprio povo. Assumiu o diálogo como método pastoral e diplomático. Procurou pontes com o Islã, com o Judaísmo, com as Igrejas Ortodoxas e Evangélicas. Pediu perdão pelos erros do ado e insistiu que a fé não deve ser instrumento de guerra ou dominação, mas caminho de paz.
Seu estilo dialogal também se manifestou em sua constante abertura ao debate interno, mesmo diante de divergências. Ele nos mostrou que a santidade é possível no cotidiano, na ternura, na firmeza que não fere, no cuidado que transforma. Jamais temeu o confronto de ideias, pois sabia que a comunhão não se faz na uniformidade, mas no respeito à diversidade, sustentada pela caridade e pela escuta do Espírito.
Francisco nos deixou uma lição viva de que a fé não se impõe, mas se propõe com mansidão; que a autoridade verdadeira nasce do serviço; e que a Igreja só será fiel a Jesus se andar com os pobres, escutar os últimos e defender a dignidade de todos.
Com sua partida, o mundo perde um líder, mas a Igreja e a humanidade ganham uma missão: não deixar morrer a esperança que ele cultivou com gestos, palavras e silêncios. A ternura que Francisco pregou não se pode apagar. Sua luta por uma Igreja mais próxima do povo, por uma sociedade mais justa, por um mundo mais humano, precisa continuar nas nossas mãos.
Francisco nos ensinou que não há tempo para esperar, que o amor é urgente e que a esperança é mais forte que a morte. Sua ausência física não anula sua presença espiritual. Seu legado não cabe em uma lápide, porque floresce nas comunidades vivas, nos corações abertos e nas mãos que não se cansam de construir pontes.
Portanto, cabe a cada um dar continuidade a esse sonho de uma Igreja mais evangélica, samaritana e aberta. Morre Papa Francisco e não a esperança porque sua vida foi, acima de tudo, uma proclamação viva da esperança cristã: a certeza de que o amor tem a última palavra. Cabe a cada um de nós, independente de sua crença ou religião, transformar sua memória em compromisso, seu exemplo em ação e sua fé em força para continuar caminhando.
Ao falarmos da partida de Francisco, o coração se aperta. Porque se a sua presença física cessa, sua esperança permanece. Francisco não foi apenas um papa, foi uma revolução da ternura. Ele ficará para sempre na história da humanidade e em nossos corações como o Papa do fim do mundo que sempre se propôs a viver simples, humilde, em diálogo e Peregrino da Esperança.
Papa Francisco e as bem-aventuranças 4n122q
Luís Eugênio Sanábio e Souza
No sermão da montanha (Mateus 5,1-10), Jesus nos aponta os caminhos que conduzem ao Céu e o nosso amado Papa Francisco, que agora vive eternamente na casa do Pai, testemunhou diante de nós estes caminhos conhecidos como bem-aventuranças. Vejamos agora as bem-aventuranças anunciadas por Nosso Senhor Jesus Cristo e os exemplos concretos que o Papa Francisco nos ofereceu ao longo de seu pontificado:
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus”: Papa Francisco exemplificou a importância do desprendimento dos bens terrenos e, assim como Jesus, se fez pobre para revelar que a verdadeira riqueza está na comunhão com Deus! (2 Cor 8,9) ;
“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”: Papa Francisco nos ensinou que o pranto que dá direito à consolação é o que tem por objeto os pecados. Francisco nos dizia que era necessário chorar diante dos pecados como sincero sinal de aversão ao mal e de arrependimento. Francisco falava do perigo da morte do senso do pecado no homem. Ele mesmo se considerava um pecador;
“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”: Papa Francisco dizia que diante de um problema devemos evitar o desespero, a aflição e nos deixou este exemplo de mansidão diante dos diversos problemas da Igreja e do mundo. No olhar manso de Francisco, brilhava a mansidão de Jesus (Mateus 11,29).
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”: Papa Francisco afirmava com frequência que a paz é fruto da justiça. De acordo com Francisco, “os justos não são moralistas que assumem o papel do censor, mas pessoas íntegras que “têm fome e sede de justiça” (Mateus 5,6), sonhadores que guardam no coração o desejo de uma fraternidade universal. Todos nós temos muita necessidade desse sonho, principalmente hoje. Precisamos ser homens e mulheres justos, e isso nos fará felizes” (Audiência Geral em 03/04/2024);
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”: Papa Francisco entra para a história como “Papa da misericórdia” porque durante todo o seu pontificado ele abraçou as obras de misericórdia que “são as ações caritativas pelas quais socorremos o próximo em suas necessidades corporais e espirituais. Instruir, aconselhar, consolar, confortar são obras de misericórdia espiritual, como também perdoar e ar com paciência” (Catecismo da Igreja Católica nº 2447);
“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”: Papa Francisco, através de suas piadas, sorrisos, simpatia, nos falava de sua pureza interior. Trata-se daquela pureza que Jesus via nas crianças e que o levou a dizer que ninguém entrará no céu se não for como um menino (Mateus 18,3);
“Bem-aventurados os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus”: Papa Francisco foi um grande promotor da paz num mundo marcado pelo ódio e pela violência. Combateu a corrida armamentista e também ensinou que a paz não é somente ausência de guerra, mas a presença ativa da justiça;
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos céus”: Papa Francisco encontrou resistências injustas dentro e fora da Igreja. Foi injustamente acusado de heresia e alguns não aram, por exemplo, a profundidade de suas reflexões a respeito de certos condicionamentos que podem atenuar ou suprimir a culpabilidade moral das pessoas, tal como ensina o Catecismo da Igreja Católica (nº 1735 e 2352).
Jesus nos prometeu que os justos irão para a vida eterna (Mateus 25,46). Agradeçamos a Deus pela boa alma do Papa Francisco que cumpriu com fidelidade sua missão de pastorear o rebanho como legítimo sucessor de Pedro e agora vive eternamente!