Foi uma festa bonita e agradável. Após a Missa na Capela da Santa Casa, todos se dirigiram para a área posterior ao templo, espaço livre, semicoberto, onde se realizou a Assembleia Geral Ordinária da Irmandade de Nosso Senhor dos os, aos 30 de abril último, para entrega oficial do título de “Irmão Benemérito Post Mortem” a Dom Antônio Ferreira Viçoso, representado pelo atual Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora. A honraria prevista nos Estatutos da Irmandade foi de iniciativa do então Provedor, Dr. Áureo de Almeida Delgado, na Assembleia anterior, acontecida no dia 11 de março ado, recordando os 170 anos da fundação canônica da referida Irmandade, mantenedora da Santa Casa de Misericórdia. O Decreto fora assinado a 15 de março de 1855, por Dom Antônio Ferreira Viçoso, Bispo da Diocese de Mariana à qual pertencia a cidade de Juiz de Fora na ocasião. 2hp2w
Como preveem os Estatutos, o diploma foi entregue em Assembleia Geral Ordinária, pelo novo Provedor, recentemente eleito, Dr. Eduardo Neves Neto. A Prefeita Margarida Salomão, presente ao ato, louvou a iniciativa da homenagem, recordando a importância desta benemérita obra da Igreja em favor da comunidade, sobretudo em sua parte mais carente, cumprindo ininterruptamente sua missão desde os primórdios até os tempos atuais.
Dom Antônio Ferreira Viçoso foi um dos mais importantes bispos do Brasil, tendo pastoreado a Diocese de Mariana, entre os anos de 1844 e 1875. Nasceu em Portugal, aos 13 de maio de 1787, de uma família muito religiosa da cidade de Peniche, tendo, desde criança, demonstrado sinais de vocação sacerdotal. Em 1811 entrou para a Congregação da Missão, conhecida por Lazarista, fundada por São Vicente de Paulo, o Pai dos Pobres, e foi ordenado sacerdote aos 7 de março de 1818, na Sé Patriarcal de Lisboa. Dotado de brilhante inteligência, o jovem Padre Viçoso viu-se logo nomeado como professor de Filosofia no Seminário de Évora. No ano seguinte, juntamente com seu coirmão, Pe. Leandro Rabelo de Castro, foi enviado pelos seus superiores religiosos para o Brasil, a fim de atender a um pedido de Dom João VI, Rei de Portugal que já residia no Rio de Janeiro. De fato, desde 1808, a família real portuguesa se estabelecera no Brasil, por causa das perseguições de Napoleão Bonaparte. Prevalecia o regime do Padroado que era uma espécie de acordo diplomático entre o Reino Português e a Igreja, com benefícios e obrigações mútuas.
Em 1819, o então Padre Viçoso e Padre Leandro fundaram o famoso Colégio do Caraça, no coração de Minas, um dos mais reconhecidos estabelecimentos de ensino do País, tendo se desenvolvido enormemente após a proclamação da Independência do Brasil, aos 7 de setembro de 1822. No primeiro Império, seja nos tempos de Dom Pedro I (1822-1831) seja no tempo das Regências Trina e Una (1831-1840), a atuação de Padre Viçoso se deu como mestre no Colégio do Caraça e um período no Rio de Janeiro, na direção de um instituto de caridade, retornando posteriormente ao mencionado Caraça. Em 1844, indicado por Dom Pedro II (1840-1889), foi eleito Bispo Diocesano de Mariana, Primaz da então Província de Minas, pelo Papa Gregório XVI (1831-1846), onde se revelou um Bispo exemplar e laborioso, tendo que investir seus esforços como prelado reformador, pois encontrou a ampla diocese que abrangia quase toda a Província de Minas, em situações de grandes problemas sejam no campo estritamente religioso sejam na área social, marcada por muita pobreza, ignorância e sofrimento.
Dom Antônio Ferreira Viçoso investiu suas atenções, sobretudo na reforma do clero, na educação e na atenção aos pobres, incluindo importante atuação em favor da abolição da escravatura, pois era abolicionista convicto e tudo fez para que os negros fossem tratados com dignidade e respeito. Podemos afirmar que Dom Viçoso foi um precursor da libertação dos escravos alcançada pela Lei Aurea assinada pela Princesa Isabel, aos 13 de maio de 1888, quando Viçoso já era falecido.
Dom Viçoso percorreu sua enorme diocese mineira durante seus 31 anos de episcopado, inclusive visitando Juiz de Fora algumas vezes. Cumpriu em sua existência o que foi dito a respeito de seu Mestre, Nosso Senhor Jesus Cristo: “Ele ou a vida fazendo o bem” (Atos 10,37). Faleceu em Mariana, no dia 7 de julho de 1875, com fama de santidade. O processo de canonização está hoje adiantado, tendo sido declarado ‘Venerável’ pelo Papa Francisco.
Juiz de Fora recebeu de Dom Viçoso benefícios significativos, sendo um dos mais importantes a já referida instituição canônica da Irmandade de Nosso Senhor dos os, além da criação da Paróquia de Santo Antônio, Freguesia do Paraibuna que, pelas leis da época, deu origem ao município de Juiz de Fora, em 1850. Com o Decreto de 1855, nossa Santa Casa de Misericórdia, fundada pelos nobres Barão e Baronesa de Bertioga, ou a existir oficialmente como entidade religiosa sanitária, única na região, hoje conhecida como Zona da Mata mineira, para alívio de tantos doentes que antes não tinham assistência. A Santa Casa de Misericórdia e a Irmandade de Nosso Senhor dos os vêm cumprindo sua nobre missão durante estes 170 anos, como instituição católica em benefício de toda a população seja do município juiz-forano seja de seus arredores, numa grande extensão.
Graças à generosidade e louvável espírito religioso do casal Barão e Baronesa de Bertioga e à atuação daquele grande Bispo do século XIX, a instituição vem superando dificuldades e desafios na história, congregando esforços de tantos médicos e outros profissionais da saúde, além de enorme plêiade de colaboradores irmanados nos mesmos ideais daquele exemplar prelado da Igreja, Dom Antônio Ferreira Viçoso, um dos mais importantes benfeitores de Juiz de Fora.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano e Diretor Ex-Officio da Irmandade de Nosso Senhor dos os da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora.